A Supremacia Aérea é a expressão máxima do Poderio Militar.
O Poder Aéreo é o mais eficiente meio de fazer e de conter a guerra, sendo capaz de destruir quaisquer tipos de alvos onde quer que se encontrem pois pelo ar chega-se a todo o lado.
O meio aéreo é a mais poderosa arma de guerra que existe, sendo também o mais destrutivo, mais eficiente, tecnologicamente mais avançado, mais preciso, mais versátil e com maior alcance operativo. É igualmente o meio de guerra que atinge as velocidades mais rápidas, chegando a supersónicas e hipersónicas, portanto com a deslocação mais veloz. O meio aéreo é ainda o que detém a menor taxa de baixas quando comparado às das forças de superfície, muitíssimo mais lentas, quantas vezes até estáticas, expostas, vulneráveis e limitadas na sua locomoção perante os obstáculos naturais ou o estado do tempo.
Em todas as guerras do Século XX o Poder Aéreo actuou com uma capacidade destrutiva imparável, muitas vezes impressionante, actuando por toda a parte, sobre a terra, sobre o mar, e no ar. Se bem que até ao presente cabe aos exércitos a ocupação física e a manutenção de posse do terreno conquistado, a partir da entrada em cena dos aeroplanos no início da Primeira Guerra Mundial todo o conceito de tácticas de combate milenares foram profundamente alteradas com a chegada da terceira dimensão, o ar. Os meios aéreos provocaram a partir dali um impacto tremendo no desenrolar dos acontecimentos e no esforço de guerra ao ponto de se tornarem fundamentais. Numa guerra convencional, não estratégica ou não nuclear, eventualmente poderá valer o velho conceito "boots on the ground", mas sempre em actuação com forças combinadas no ar e no mar, sem as quais a partir de 1914 em diante não seria mais possível a vitória isolada de tropas terrestres ou navais sem o apoio e protecção do Poder Aéreo. No entanto, como aeronaves e navios não podem ocupar e manter áreas conquistadas em terra, cabe por vezes às forças terrestres a tarefa de acabarem com restos de resistências inimigas ou forçarem-nas a sair rendidas de trincheiras. E isto se o Poder Aéreo ainda não tenha acabado com tudo. É que convém lembrar que os aviões em guerra de alta escala podem empregar armamentos de elevada destruição, precisão e grande eficácia, já para não falar do uso de armas de destruição maciça e nucleares. O Poder Aéreo, sendo flexível, pode apoiar as forças terrestres e navais mas também pode efectuar missões autónomas e independentes. Daí, as forças aéreas serem sempre valências de cariz estratégico e não táctico, ao contrário das forças de superfície.
Durante a Primeira Guerra Mundial a velha ideia secular da matança indiscriminada de soldados, julgando-se que por aí é que se continuariam a ganhar guerras, já não fazia qualquer sentido. Continuar no conceito de Guerra de Desgaste tornava-se uma visão obsoleta. O que então começava a interessar aos estrategas era o novo conceito de Guerra Rápida dirigida directamente às plataformas nevrálgicas do inimigo. A prioridade máxima era destruir os centros de gravidade e sustentação do poderio militar da nação adversária, arrasar os seus "altares industriais", os postos de comando militares, as vias de comunicação para impedir as movimentações terrestres, as bases aéreas e os portos a fim de impedir a defesa e os suprimentos por ar e mar, cortando as vias de aprovisionamento, negando a resistência e a sobrevivência à nação inimiga. Esse árduo trabalho só poderia estar ao alcance de uma força bélica rápida, com alcance, que apanhasse o inimigo desprevenido, onde quer que estivesse, e em tempo útil tirando partido do factor surpresa. Este era o trabalho para a arma aérea.
Durante a Segunda Guerra Mundial o Poder Aéreo actuou com uma destruição avassaladora, a uma escala abrangente, onde exércitos e marinhas eram apanhados pelas surpreendentes revoadas de ataques e bombardeamentos maciços da Aviação nada restando além de escombros, sofrimento, morte e destruição. O Poder Aéreo actuou muitíssimas vezes debaixo de quaisquer condições atmosféricas, de dia ou de noite, chovesse, nevasse ou fizesse sol, sobre quaisquer tipos de topografia, sobrevoando terra e água, elevando-se sobre os obstáculos naturais, transpondo altas montanhas como se não existissem, voando alto através do céu, vigiando a Terra a partir de cima, sempre com uma eficácia inigualável e um grau de destruição que não se media mais em jardas mas em longos milhares de milhas. As aeronaves transportavam nas suas asas a Guerra Total e o verdadeiro “músculo” do Poder Aéreo, uma força bélica jamais vista em milénios de História da Humanidade.
Esse Poder Aéreo quebrou a coluna vertebral à Alemanha, com as gigantescas campanhas de bombardeamento maciço sobre vilas, portos, barragens, pólos industriais e cidades alemãs (tais como Hamburgo, Bremen, Dresden, Leipzig, Munique, Estugarda, Colónia, incluindo a imensa devastação da capital Berlim que foi praticamente "desventrada" do mapa). Na Frente do Pacífico contra o Japão, não foram os soldados norte-americanos em terra mas sim os grandes combates aeronavais com a aviação dos porta-aviões e posteriormente as grandes campanhas aéreas de bombardeamentos incendiários sobre as cidades japonesas (de Osaka, Nagoya e a capital Tóquio) que destruíram quase por completo as forças militares japonesas e a economia do país, privando a sua resistência. Para infortúnio da Humanidade, o auge do Poder Aéreo na Segunda Guerra Mundial culminou com o lançamento da mais terrível e destruidora arma aerotransportada de todos os tempos, a Bomba Atómica. Pela primeira vez na História, duas bombas nucleares seriam lançadas sobre duas grandes cidades do Japão (Hiroshima e Nagasaki), forçando o Império Nipónico a assinar a rendição a bordo do navio couraçado USS Missouri.
Lutaram milhões de soldados, na terra, no mar e no ar, mas bastaram duas tripulações de catorze homens em dois enormes bombardeiros pesados B-29 Superfortress (baptizados Enola Gay e Boxcar) para precipitarem o fim do Imperialismo do Sol Nascente e porem termo à Segunda Guerra Mundial.
Bombardeiro pesado Boeing B-29A Superfortress (Enola Gay) largando a bomba atómica sobre a cidade de Hiroshima.
A partir de 1945 a Era Atómica tinha chegado definitivamente e o mundo estava chocado. A acção do bombardeamento de destruição em massa prostrou o Japão de joelhos numa forçosa rendição.
A Aviação Militar, dadas as suas faculdades únicas de ser uma força armada estratégica, de actuação tridimensional, polivalente, independente, de livre acção, extremamente rápida, de emprego flexível e com alcance destrutivo planetário, actuou por toda a parte, onde exércitos e marinhas não o podiam fazer pois estavam fora do seu meio natural: era impossível fazer voar tanques e exércitos por cima de grandes e altos obstáculos topográficos como montanhas sem vias de locomoção, fazer avançar navios sobre a costa e andar com eles para dentro de terra, ou entrar com tanques e soldados pelo mar adentro. Mas os aviões, voando, podiam transpor rapidamente esses obstáculos. Além de fazerem a guerra no ar, lançavam-na também sobre as outras duas dimensões, a terra e o mar. A amplidão do seu alcance e da sua abrangência destrutiva, “além-mar e além-fronteiras”, bem como a profundidade de actuação em tempo oportuno eram faculdades só possíveis aos aviões. O Poder Aéreo propagava-se na abrangência geográfica e no esticar do seu aguilhão.
"-O Poder Aéreo é um punho de aço empunhando a Espada de Dâmocles que ameaça cair sobre a cabeça dos inimigos." (Guião Doutrinário da Aviação Militar).
A capacidade de sobrevoar pelo ar quaisquer obstáculos naturais e a enorme vastidão intercontinental do alcance da sua actuação, fizeram do Poder Aéreo o esteio da guerra. Tanto, que a História da Aviação Militar é praticamente a própria História da Segunda Guerra Mundial.
"-O Poder Aéreo tornou-se predominante, tanto como instrumento de dissuasão na guerra quanto, na eventualidade da própria guerra, actuar como uma força verdadeiramente devastadora, capaz de destruir todo o potencial inimigo e fatalmente solapar-lhe a vontade de continuar a fazer a guerra." (1945 - Gen. Omar Bradley).
"-Ao nível táctico e estratégico, o Poder Aéreo é que modelou todo o corpo da guerra, destruindo nações inteiras, de dentro para fora, tornando-as infuncionais. Quando essas nações não puderam funcionar, as suas forças armadas seguiram-lhes o exemplo." (1945 - Gen. Dwight Eisenhower, comandante supremo das Forças Aliadas na Europa).
“-O efeito moral e material dos bombardeamentos estratégicos superou largamente os efeitos das lutas terrestres numa proporção de 100 para 1. Foi fundamental criar o maior efeito destruidor possível. Foi o Poder Aéreo aliado na Segunda Guerra Mundial que traçou e abriu o caminho para a Liberdade e para a Democracia, eliminando a Tirania.” (Gen. do Ar Hugh Trenchard da RAF num discurso na Câmara dos Comuns em 1945).
Nos tempos actuais, os modernos e avançados aviões e helicópteros de combate passaram a ser máquinas de guerra "virtualmente quase intocáveis". E "intocáveis" porque nem sequer precisam de se aproximar dos alvos inimigos para os destruir e dessa forma exporem-se ao alcance das perigosas defesas anti-aéreas. Na verdade, as armas de longo alcance de certos modelos de aviões e helicópteros evoluíram de tal forma que podem eliminar inimigos a distâncias tais, que as armas anti-aéreas não os conseguem alcançar. Foi com a eclosão da Guerra do Vietnam nos Anos 60 e principalmente a partir dos inícios dos Anos 70 do Século XX que as bombas guiadas e os mísseis lançados do ar evoluíram imenso. A partir dali esses armamentos atingiram o estatuto de "alta precisão cirúrgica" sendo guiados por radares, por sensores infravermelhos, por feixes-laser e por GPS, destroem alvos a distâncias enormes de forma completamente autónoma liberando a aeronave lançadora para bem longe das áreas de risco. Os mísseis têm computadores com "inteligência artificial" que podem decidir como, onde, e quando podem atacar os alvos, tendo inclusive a capacidade de efectuarem manobras de "diversão" para os driblar antes de repentinamente se desfecharem contra eles. A sua precisão é letal e podem vir de direcções inesperadas e enganosas. Actualmente há armamentos aéreos "inteligentes" absolutamente infalíveis, com uma margem de erro que já não se mede em metros mas sim em centímetros. Há mísseis e bombas guiadas que podem entrar por janelas de edifícios ou de viaturas. Há helicópteros, pequenos drones "suicidas" e drones UCAV (aeronaves de ataque por controlo remoto) que a grande distância podem detectar, seguir, seleccionar, ampliar ao pormenor, observar e eliminar alvos tão pequenos como soldados ou terroristas infiltrados (eliminação selectiva ou "air sniper") sem que estes sequer notem que estão sendo vigiados. As efectividades de combate são em "tempo-real" e a "todo-o-tempo" sob quaisquer condições meteorológicas, de dia ou de noite, sobre áreas urbanas. Nos últimos anos é este o tipo de operação mais comum contra grupos terroristas islâmicos na Síria, Afeganistão, Iraque, Líbano ou Gaza, bem como algumas operações (COIN-Counter Insurrection) na América Latina e na Ásia.
Um dos lemas do Poder Aéreo é: "-uma Força Aérea moderna deve estar sempre um passo à frente das ameaças do momento." (Código de Conduta da NATO).
Mas para se compreender o Poder Aéreo na actualidade tem que se aprender primeiro o seu passado que foi glorioso e tão importante ao ponto de mudar o curso das guerras.
É incontestável o papel protagonista que a Aviação desempenhou em todo o conflito de 1939-45. O Domínio dos Céus significou a possibilidade da vitória das tropas de terra e das formações navais, quer na Frente Europeia, quer na Frente do Pacífico.
No começo das hostilidades, foi a Aviação alemã da Luftwaffe que permitiu o alastramento rápido da Blitzkrieg (guerra relâmpago) sobre a Polónia, permitindo às divisões couraçadas e às infantarias avanços e ocupações que se estenderam desde a Dinamarca, Suécia, Finlândia indo até aos confins da Noruega. Foi a Aviação alemã a primeira no mundo a lançar tropas pára-quedistas para desfecharem ataques por detrás das linhas inimigas. Foi a Aviação alemã com os seus infernais ataques que devastou fileiras e abriu caminho aos avanços da Wehrmacht (exército) na campanha dos Países Baixos (Holanda), da Bélgica e Luxemburgo, e na invasão de França. Por outro lado, foi a Aviação inglesa que, fazendo frente e desgastando a Luftwaffe na grande Batalha de Inglaterra, salvou com os seus caças Spitfire e Hurricane o último Bastião de Liberdade na Europa, o Reino Unido. Os caças ingleses provocaram grandes derrotas nas gigantescas formações de milhares de bombardeiros e caças alemães de escolta que atravessavam o Canal da Mancha rumo às cidades britânicas. Durante um ano inteiro, com extrema valentia, coragem, bravura, determinação, sangue, sofrimento e morte, os pilotos da RAF afastaram definitivamente das ilhas o espectro da invasão nazi. Foi tão grandioso e histórico esse prodígio que o primeiro ministro Sir Winston Churchill discursou perante o povo as épicas palavras: “-nunca na História dos Conflitos Humanos tantos deveram tanto a tão poucos.”
O grande desembarque dos Aliados na Normandia, no Dia-D, seria inconcebível se eles não tivessem assegurado primeiro o Domínio dos Céus. Para que essa gigantesca campanha naval, aérea e terrestre fosse desencadeada com o sucesso que a História registou, foi crucial a Aviação aliada previamente criar no espaço aéreo um grande "guarda-chuva" de protecção. Durante meses, os caças ingleses e americanos combateram os aviões alemães sobre a França ocupada, tendo-lhes conquistado a Superioridade Aérea, a chave da vitória que faltava para determinar o rumo dos ventos do conflito. Com os inimigos varridos dos céus, foi então possível criarem-se condições de segurança para o grande desembarque (testa de ponte) e manter uma protectora Cobertura Aérea por cima das forças de superfície. A coberto dos caças, avançaram também milhares de aviões de transporte e planadores rebocados cheios de tropas pára-quedistas que saltaram além das linhas inimigas.
Os EUA talvez nunca teriam entrado na guerra se não tivesse acontecido o grande ataque aéreo japonês às bases aéreas e navais de Pearl Harbor, no arquipélago das ilhas Hawai, área central do Oceano Pacífico. Jamais ficariam em condições de vencer sem o sucesso das enormes batalhas aeronavais que ali se sucederam (Mar de Coral, Midway, Guadalcanal, Marianas, Leyte e Okinawa). Sem o seu Poder Aéreo ter vencido sobre o mar e no ar, não poderiam ter obrigado o Império Nipónico a render-se, ainda antes que a bota de um soldado norte-americano pisasse o solo do Japão. E não teriam conseguido a Vitória Final se não tivessem efectuado os bombardeamentos de grande escala dos B-17 e B-29, primeiro, e o lançamento das duas bombas atómicas, depois.
Durante a Segunda Guerra Mundial foram empregues mais de 675.000 aviões, sendo cerca de 475.000 dos Aliados e o resto das Forças do Eixo. Foi a Aviação que suportou e decidiu os passos mais importantes das batalhas, arrasando frentes, abrindo fileiras, conquistando os ares para serem possíveis as navegações marítimas e os avanços terrestres sem a ameaça inimiga vinda de cima. Foi a acção concertada da Aviação Aliada que destruiu cidades e indústrias obrigando a seu tempo países inteiros a vergarem-se pela sentença infernal dos bombardeamentos em larga escala. Essas operações negaram a vontade de resistência às tropas inimigas, desmotivando-as e liquidando o sentido de sobrevivência das populações.
Foram por fim os resultados devastadores deixados pela Aviação que pesaram nas consciências dos líderes inimigos e forçaram regimes totalitários a renderem-se incondicionalmente. Alguns não tiveram melhor sorte que cometerem suicídio, como aconteceu a Hitler e a outros líderes nazis.
O Poder Aéreo foi vital para os Aliados alcançarem o Dia da Vitória e com isso a sobrevivência das próprias Liberdade, Democracia e Justiça. Por conseguinte, o Poder Aéreo marcou com as suas impactantes consequências os principais destinos do Mundo Livre que eclodiu depois no Pós-Guerra com a Ordem Mundial que se seguiu.
Mas é oportuno examinar o que este conflito mundial significou na História da Aviação: antes de mais nada, assinalou o fim do biplano inteiramente metálico dos Anos 30 e a chegada do moderno monoplano. Assinalou o triunfo dos bombardeiros estratégicos pesados como a Arma Aérea Definitiva em todo o seu poder bélico. Assinalou a afirmação do avião como uma arma prioritária para a marinha, fazendo do porta-aviões o recurso naval mais poderoso e eficaz, condenando definitivamente os grandes couraçados à extinção. Assinalou o nascimento do radar e dos aviões equipados com ele (caças nocturnos e bombardeiros nocturnos). Assinalou o nascimento do veloz caça a reacção a jacto, dos mísseis guiados, dos foguetões espaciais e das bombas "inteligentes", relegando para a obsolescência os aviões com motor a pistão, os canhões e as torretas de metralhadoras a bordo. Com estas inovações tecnológicas abriu-se um novo capítulo, a Era da Aviação a Jacto e da Missilística. Os aviões-foguete experimentais (os famosos X-Planes) iriam em poucos anos vencer a Barreira do Som sem se desfazerem, resistirem à Barreira do Calor sem derreterem, aguentarem a Onda de Choque Supersónica sem se desintegrarem até alcançarem o Espaço. Com este enorme avanço abriu-se em consequência a Corrida ao Espaço entre os EUA e a então URSS, iniciando-se um novo capítulo desde o lançamento do satélite Sputnik às naves espaciais tripuladas Vostok, Voskhod, Soyuz, Mercury, Gemini e Apollo culminando na chegada do Homem à Lua e muito além desta, onde o céu terrestre já não era o limite mas sim a exploração astral do infinito com sondas espaciais dirigidas a outros planetas e galáxias. A Era a Jacto transformou a Aeronáutica em Astronáutica dando origem à moderna Indústria Aeroespacial.
Avião espacial North American X-15A Rocketplane.
O fim da Segunda Guerra Mundial assinalou também o início do transporte aéreo civil de passageiros em larga escala, com a movimentação de milhões de pessoas e biliões de toneladas de carga à volta do planeta Terra, situação que levou em poucos anos à extinção os grandes paquetes transatlânticos e as suas companhias navais. O Transporte Aéreo transformou o mundo, reduzindo-o a uma pequena esfera, aproximando continentes longínquos no espaço e no tempo. A Aviação Comercial fez com que o mundo parecesse pequeno, unindo em horas de voo e não em meses de navegação, lugares muito distantes. Na verdade mais que nenhum outro, o Transporte Aéreo mundializou povos e culturas, criando o Turismo de Massas, fomentou a Globalização e impulsionou a Economia Mundial.
Avião de passageiros quadrireactor de longo curso Airbus A340-541 para rotas transatlânticas.
Mas o Pós-Guerra assinalou também o começo da Era Nuclear com a descoberta e a utilização, a bordo de um avião, de uma arma capaz de aniquilar o mundo. Este último acontecimento, de modo especial, revolucionou completamente a estratégia das maiores potências militares mundiais (EUA versus a então URSS), impelindo-as a procurar um equilíbrio bélico como garantia da "Paz pela Força".
Superbombardeiro nuclear estratégico Convair B-36H Peacemaker, o baluarte da Guerra Fria.
De 1939 a 1945, o avião impusera-se à atenção de todos, ao ponto do vulgar homem da rua reconhecer que a intervenção do Poder Aéreo fora decisiva em muitas batalhas e que o próprio êxito da Guerra num todo dependera do Domínio dos Céus.
Milhões de jovens envergando o uniforme militar tinham tido ocasião de familiarizarem-se com o avião, porquanto o avião fora para eles, muitas vezes, o amigo precioso ou o adversário perigoso.
Caça-bombardeiro furtivo ou indetectável (stealth) Lockheed F-117A Night Hawk.
Hoje em dia é lugar comum afirmar-se que a aeronave é a arma de guerra mais poderosa, mais eficiente e mais destrutiva que existe. Mas é também a que gera consequências mais impactantes e vastas com a sua actuação. Escusado será dizer que o meio aéreo é o que detém a maior abrangência geográfica de acção, a maior flexibilidade de emprego, a maior taxa de invulnerabilidade e o maior índice de sobrevivência. Pelo seu alcance global incomparável, pela elevada velocidade que encurta o espaço e o tempo é, seguramente, o meio bélico mais decisivo nas guerras.
Bombardeiros nucleares estratégicos indetectáveis Rockwell B-1B Lancer e Northrop B-2A Spirit
"-A Superioridade Aérea é a expressão máxima do Poderio Militar, sendo simultaneamente a Chave da Vitória que torna possível as pretensões políticas." (revista Avion Revue).
Foi o Poder Aéreo que modelou a Ordem Mundial do Pós-Guerra. O mundo que herdamos, foi nada mais que o resultado daquilo que o Poder Aéreo deixou nas guerras do Século XX, principalmente na Segunda Guerra Mundial e durante a tensão bipolar entre a então URSS e os EUA, a chamada Guerra Fria. O mosaico geopolítico que hoje subsiste nada mais é do que o resultado daquilo que o Poder Aéreo gerou nos principais conflitos.
Tal como o Poder Terrestre tinha sido durante milénios a força principal nas batalhas, sucedendo-se depois o Poder Naval "além-mar" que perdurou durante séculos tendo o seu auge na Era das Descobertas e das Colonizações, foi a partir da Primeira Guerra Mundial do Século XX que o Poder Aéreo se foi consolidando como a força militar mais importante. A partir dali começou cada vez mais a ser o Poder Aéreo quem legitimou e potencializou o esteio da acção bélica sobre a terra, sobre o mar, e no ar, através do uso da força e da projecção da massa numa forma tão rápida nunca antes acontecida. Em sequência, passou a ser o Poder Aéreo que torna possível atingir as pretensões políticas e os objectivos definidos. O Poder Aéreo fortalece a diplomacia internacional das grandes potências mundiais, prestigiando as nações tecnologicamente desenvolvidas e demonstrando simultaneamente a influência da sua afirmação a nível regional, continental ou mundial, a designada Geoestratégia.
"-O poder de um país será medido pelo seu Poder Aéreo." (Alexander Seversky).
“-Só o Poder Aéreo é que consegue dominar os céus para tornar possível a superfície.” (Marechal do Ar Arthur Travers Harris da RAF, alcunhado o grande carrasco da Alemanha Nazi).
"-Desde a Primeira Guerra Mundial, país algum ganhou uma guerra perante a Superioridade Aérea adversária. Por outro lado, nenhum estado perdeu uma guerra enquanto manteve a Superioridade Aérea. Nunca a aviação necessitou da ajuda de exércitos ou de marinhas para cumprir a sua acção bélica, que é completamente independente. Por sua vez, os exércitos e as marinhas sempre necessitaram da aviação para lhes dar Cobertura Aérea (escolta, defesa e protecção). Nunca uma guerra do Século XX foi ganha sem primeiro se ter conquistado o Domínio dos Céus. Nunca na História da Guerra um exército ou uma marinha ganhou uma batalha contra a Aviação. No entanto a Aviação ganhou, em muitas vezes, inúmeras batalhas contra grandes exércitos e grandes marinhas." (Gen. John Warden, comandante supremo da USAF - 1965-1995).
"-Se o atacante conquistar o domínio dos céus, o defensor está perdido." (Almirante Carl Vinson).
O General Giulio Douhet foi o maior estratega do mundo sobre Poder Aéreo. Há mais de 100 anos profetizou (tal como Julio Verne) toda a revolução que a Arma Aérea iria provocar na Guerra, chegando ao ponto de afirmar que ela relegaria os exércitos e marinhas para segundo plano, estes seriam decorrência, resumiriam-se a forças tácticas de marcação de presença e ocupação.
Douhet visionou o impacto que "o mais pesado que o ar" teria em prol do desenvolvimento da Tecnologia e da Ciência, reorientando os "ventos da mudança" ao longo do Século XX. Previu ainda, com muitas décadas de antecedência, a Supremacia do Poder Aéreo sobre as outras valências militares, que seriam de menor importância numa Guerra de Alta Escala. Visualizou toda a enorme revolução que a aeronave provocaria na Guerra, muito mais que quaisquer armas ou meios bélicos anteriores, ao introduzir nela a terceira dimensão, o Ar, e comprimindo-lhe a quarta, o Tempo.
Primeira Guerra Mundial (1914-1918): combate aéreo a curta distância "dogfight" entre aeroplanos
britânicos Royal Aircraft Factory SE.5 e alemães Fokker DR.I Dreidecker (triplano).
A Arma Aérea alterou os factores surpresa e imprevisibilidade. O advento do aeroplano transformou por completo doutrinas e tácticas, a tal ponto que as hostes terrenistas e os orgulhosos almirantados viram-se limitados nos compêndios napoleónicos e clauswitzeanos, desactualizados nas velhas tácticas para as pachorrentas guerras de superfície.
Douhet, décadas antes, previu os finais futuros da Guerra das Trincheiras e da Guerra de Desgaste, profetizando o advento do Poder Aéreo como a arma beligerante suprema. Com o avião nascera a nova Guerra de Movimento e a decisória Guerra de Atrito. Também na previsão que fez durante a Primeira Guerra Mundial, Douhet anteviu o impacto brutal que o Poder Aéreo teria logo nessa guerra, ao ponto dos grupos aéreos de combate das grandes potências bélicas conseguirem o grato reconhecimento militar e político. Pela sua glória, mérito e sacrifício, foi-lhes concedida a independência em relação às outras forças militares, transformando-as nas modernas forças aéreas de hoje.
Douhet estava muito à frente do seu tempo, foi um visionário e um grande General do Ar.
Em pouco tempo o mundo descobriria a verdade das suas certeiras afirmações e iria dar-lhe razão quando afirmou:
«Dez anos em Aviação é uma Eternidade. Quem controlar o Ar dominará a Terra e o Mar».
© 2010 (Extractos do Livro: Todos os Aviões do Mundo - Dos Primórdios da Aviação até aos Dias Actuais - Enzo Angelucci).